Sara Bonetta Forbes, a princesa africana dada “de presente” para a Rainha Vitória

Fotografia de Sara, 1862.

Fotografia de Sara, 1862.

Nascida por volta de 1843, a futura Lady Sara Forbes Bonetta, chamada primeiramente de Aina, nasceu em Oke-Odan, uma aldeia de Egbado, do oeste africano. Em 1848, quando Aina tinha cinco anos, sua vila foi invadida por um exército de Dahomean – um reino africano que durou de 1660 até 1894. Acredita-se que ela fosse uma espécie de princesa da sua vila, mas durante o ataque, Aina perdeu seus pais e acabou na corte do rei Ghezo como uma cativa.

Também há rumores de que Aina foi capturada para servir de sacrifício humano, mas foi resgatada pelo capitão Frederick E. Forbes, que chegou na corte do rei africano em 1850. Forbes conseguiu convencer o rei a dar a jovem criança de presente para a Rainha Vitória, embora a escravatura já houvesse sido abolida na Inglaterra. “Ela seria um presente do Rei dos negros à Rainha dos brancos”, Forbes escreveria depois. Ele também escreveria:

“Eu só tenho de acrescentar algumas informações sobre a minha extraordinária ‘criança-presente’ africana – uma dos cativos desta terrível caça de escravos foi essa interessante garota. É costume reservar as crianças de melhor nascimento para imolar os túmulos dos falecidos da nobreza e, para uma destas atividades, ela ficou detida na corte por dois anos, provando que, uma vez que ela não foi vendida para traficantes de escravos, que ela era de boa família”.

 Lady Sara Forbes Bonetta, 1862.

Lady Sara Forbes Bonetta, 1862.

Ele renomeou Aina com seu próprio sobrenome: Sara Forbes Bonetta, uma vez que Bonetta era o nome de seu navio. A Rainha Vitória e o Príncipe Albert receberam-na em Windsor, e pagaram por sua educação em uma escola em Freetown. Sara se tornou proficiente em inglês rapidamente, mostrando um talento natural para a música.

A Rainha ficou impressionada com a inteligência excepcional da jovem princesa, e nomeou Sara como sua afilhada. Sobre esse período, o capitão Forbes escreveu:

“Ela é uma garota perfeita, ela agora fala inglês bem, e tem um grande talento para a música. Ela ganhou as afeições, com poucas exceções, de todos que a conheceram. Ela está muito à frente de qualquer criança branca de sua idade, na aptidão da aprendizagem, força de espírito e afeto”.

Em 1851, Sara ficou gravemente doente, acredita-se que por conta do clima da Grã-Bretanha. Ela então foi enviada para uma escola na África, quando tinha 8 anos, mas ficou muito infeliz lá e voltou para a Inglaterra em 1855, então com 12 anos.

Em 1862, a Rainha Vitória conseguiu um casamento de Sara com o capitão James Pinson Labulo Davies. Ele era africano, um comerciante-marinheiro, e era um empresário, estadista e filantropo muito influente. Ele era 15 anos mais velho do que Sara, mas era extremamente educado, tendo sido professor também em Freetown. Acredita-se que Sara não quis casar com ele de início. A rainha então enviou-a para viver com as senhoras solteironas Hannah Welch (de 77 anos) e sua irmã Mary Welch (de 66 anos). Logo, Sara aceitou Davies como seu marido.

James Pinson Labulo Davies e Sarah Forbes Bonetta, fotografada em Londres em 1862.

James Pinson Labulo Davies e Sarah Forbes Bonetta, fotografada em Londres em 1862.

A festa de casamento foi em West Hill Lodge, contando com dez carruagens, com senhoras brancas e africanas, com dezesseis damas de honra. Após o casamento, o casal viajou para Serra Leoa. Ela deu à luz a uma filha, Victoria Davis, em 1863. Após seu nascimento, o casal mudou-se para Lagos, na Nigéria, onde duas outras crianças nasceram: Arthur (em 1871) e Stella (em 1873).

Sara continuou a desfrutar uma estreita ligação com a Rainha, tendo voltado para a Inglaterra em 1867 para apresentar sua filha á Rainha, voltando para África logo depois. Aos 37 anos, Sara contraiu tuberculose e morreu em 4 de Agosto de 1880. Seu marido, Davis, ergueu um obelisco de dois metros e meio em sua memória.

A filha de Sara, Vitória, também foi uma afilhada da Rainha Vitória, tendo se casado com o médico africano John K. Randle. Eles viveram na Inglaterra e na África, assim como sua mãe seu pai. Após a morte Sara, a rainha escreveu em seu diário:

“Vi a pobre Vitória Davies, minha afilhada negra, que soube hoje da morte de sua querida mãe”.

Certamente não podemos romancear a história de Sara – ela teve uma vida confortável, mas um pouco infeliz, mas certamente é surpreendente dada a época em que ocorreu. Ficou órfã tão jovem, foi dada como presente para a Rainha, criada entre estranhos e ainda tratada em tão alta conta com uma vida de riquezas e acessos.  Infelizmente, nunca saberemos quais eram realmente os sentimentos de Sara sobre o que sua vida se tornou.

Bibliografia:
Sally Bonetta Forbes ‘The African Princess’“. Acesso em 11 de Fevereiro de 2015.
Great-Britain/Benin: Sally Bonetta Forbes Davis, the Benin of Queen Victoria.” Acesso em 11 de Fevereiro de 2015.
James Pinson Labulo Davies“. Acesso em 11 de Fevereiro de 2015.
Sara Forbes Bonetta“. Acesso em 11 de Fevereiro de 2015.

22 Respostas para “Sara Bonetta Forbes, a princesa africana dada “de presente” para a Rainha Vitória

  1. Belíssima e tocante! Quanto sofrimento e superação pode suportar uma mulher?! Cada mulher é um pouquinho de um deus. Valeu Rosa por essa linda postagem. Bjs

    Curtir

    • Todo mundo preferiria. Mas já que não existe (imagine se nós escrevêssemos apenas sobre aqueles que efetivamente escreveram sobre si mesmos! Praticamente não haveria personagens históricos), só nos resta escrever sobre ela.

      Curtir

    • Anônimo, acho que você está precisando ler primeiro e comentar depois. No final do artigo, estão os sites que eu utilizei como fonte para escrever esse artigo. Agora, se você entrar nesses sites, verá que as fontes deles foram livros escritos sobre a Sarah, como “At Her Majesty Request: An African Princess in Victorian England”, por Walter Dean Myers (publicado em 1999), e “Of Africa’s Brightest ornaments: a short biography of Sarah Forbes Bonetta”, de C. Bressey. Da mesma forma, os dois artigos da Wikipédia que eu usei foram escritos com base nos livros “The Life of James Pinson Labulo Davies: A Colossus of Victorian Lagos”, de Adeyemo Elebute; “Africa in Scotland, Scotland in Africa: Historical Legacies and Contemporary Hybridities”, de Afe Adogame e Andrew G. Lawrence; “The Lagos Consulate 1851-1861”, de Robert Smith; “A preface to modern Nigeria: the “Sierra Leonians” in Yoruba, 1830-1890″, de Jean Herskovits Kopytoff; “Africa’s Development in Historical Perspective”, de Robinson e Nunn; “The Church and the Emergence of the Nigerian Theatre, 1866-1914”, de J.A. Adedeji; “Queen Victoria: A Biographical Companion”, de Helen Rappaport, e ” A History of Modern Britain: 1714 to the Present”, de Ellis Wasson.

      Curtir

Deixar mensagem para Dado Minas Cancelar resposta