William H. Mumler: o primeiro fotógrafo de espíritos do século XIX

A sra. French de Boston com o espírito de seu filho. Por volta de 1868.

A sra. French de Boston com o espírito de seu filho. Por volta de 1868.

No século 19, pela primeira vez na história do Ocidente, a maioria das pessoas não só sabiam ler, mas tinham tempo para fazê-lo, e isso fez surgir muitas novas idéias. Novas religiões apareceram em toda a América, e entre eles estava o Espiritismo, a crença de que as almas vivem no mundo espiritual e ainda podem ser contactadas. Outra nova idéia foi a fotografia. Adicione essas duas idéias e adicione uma guerra que matou milhões de pessos queridas e pessoas que precisavam de dinheiro. O resultado é a seguinte frase: o dobro da exposição tras o dobro de dinheiro.

Bostonian William H. Mumler foi o primeiro fotógrafo de espírito proeminente. Nascido em 1832, ele era um gravador de jóias no início da década de 1860 e se envolveu com a fotografia como um hobby. Um dia, ele tirou um auto-retrato e a figura de uma jovem apareceu no fundo de sua foto. Ao contrário da maioria dos vitorianos, Mumler não surtou: ele soube imediatamente que a aparição de uma mulher desconhecida em sua foto se devia ao fato dele ter utilizado uma placa fotográfica reutilizada. Ele assumiu que era um acidente, mas seus amigos lhe disseram que a figura parecia muito com um primo seu que havia morrido. Logo a foto chamou a atenção de toda a comunidade espírita, proclamando-o como o primeiro fotógrafo de espíritos. Mumler não discutiu com eles, e aproveitou o interesse.

Homem não identificado com dois espíritos. Por volta de 1870.

Homem não identificado com dois espíritos. Por volta de 1870.

Mumler deixou de lado as jóias e foi para Nova Iorque ser fotógrafo espírita em tempo integral. No entanto, as pessoas ficaram céticas com as habilidades de Mumler de capturar os mortos em uma fotografia. Nem todos os espíritas o apoiavam também: muitos alegavam que os mortos em suas fotografias não só estavam vivas, como tinham posado para ele recentemente. Os fotógrafos rivais temiam que ele pudesse denegrir a reputação da profissão. Há relatos de muitos fotógrafos profissionais que foram supervisionar o seu processo de fotografia e impressão. E aí é que está um dos maiores mistérios: ninguém conseguiu encontrar uma evidência de fraude. Embora fosse conhecido o método de utilizar duas placas de fotografia para ‘fazer’ um fantasma (em uma placa ia a foto de quem estava posando, em outra placa ia uma fotografia de um ‘morto’, e depois as placas eram impressas juntas), nunca conseguiu-se provar que Mumler utilizava esse método.

Em 1869, Mumler foi processado pela polícia de Nova York, afirmando que ele se aproveitava de pessoas que estavam sofrendo. O julgamento durou sete dias. Do lado de Mumler estavam espíritas e um ex-juiz proeminente. Entre as testemunhas contra estavam vários fotógrafos que explicavam como ele tirava suas fotos e o famosíssimo PT Barnum, que disse ter comprado algumas das fotografia de Mumler para exibí-las em seu Museu como um típico exemplar de farsa fotográfica. A audiência atraiu a atenção de todo o país, e no final do caso o juíz relutantemente decidiu retirar as acusações contra Mumler, alegando falta de provas. Ambos os lados, no entanto, declararam vitória. Apesar de ter as acusações retiradas, Mumler ficou com 3 mil em dívidas com advogados, e as acusações do julgamento de que suas fotos eram falsas seguiram-no por todos os lados.

Mary Todd Lincoln com o "fantasma" do marido.

Mary Todd Lincoln com o “fantasma” do marido. 1871.

Uma das fotografias mais famosas de Mumler aconteceu em 1871. Ele disse que uma mulher desconhecida veio posar para ele, chamando a si mesma de “Sra. Lindall”. A fotografia resultante é considerada a última fotografia conhecida de Mary Todd Lincoln, com seu famoso marido morto atrás dela.  Alguns estudiosos acreditam que Mumler realmente não sabia quem era a mulher. Apesar de hoje a imagem ser descartada como uma fraudulenta dupla exposição, a fotografia é amplamente divulgada.

Em 1875, Mumler publicou uma autobiografia, mas sua carreira estava em declínio. Ele parou de produzir fotos espíritas em 1879. Quando morreu em 1884, pela maioria dos registros, ele estava sem um tostão. Curiosamente, no entanto, ele destruiu todos os seus negativos pouco antes de sua morte, e também não existe nenhuma fotografia dele – sobreviveram apenas fotografias tiradas por ele. Veja mais algumas abaixo:

Robert Bonner e o fantasma de sua esposa. Entre 1862-1875.

Robert Bonner e o fantasma de sua esposa. Entre 1862-1875.

O sr. Herrold em transe, com seu espírito atrás dele. Por volta de 1868.

O sr. Herrold em transe, com seu espírito atrás dele. Por volta de 1868.

A sra. Conand com o fantasma de seu irmão Charles H. Crowell. Por volta de 1868.

A sra. Conand com o fantasma de seu irmão Charles H. Crowell. Por volta de 1868.

Mulher idosa não-identificada com três espíritos no fundo. Por volta de 1862-1875.

Mulher idosa não-identificada com três espíritos no fundo. Por volta de 1862-1875.

A esposa do sr. Chapin, comerciente de petróleo, e seu bebê. 1862-1875.

A esposa do sr. Chapin, comerciente de petróleo, e seu bebê. 1862-1875.

Cinco espíritos atrás de uma mesa. Entre 1862-1875.

Cinco espíritos atrás de uma mesa. Entre 1862-1875.

Bibliografia:
ONEILL, Therese. Mr. Mumler’s Ghosts: The Father of Spirit Photography. Acesso em 19 de Fevereiro de 2016.
Mumler’s Spirit Photos. Acesso em 19 de Fevereiro de 2016.
William H. Mumler. Acesso em 19 de Fevereiro de 2016.
Do you believe? The Mumler Mystery. Acesso em 19 de Fevereiro de 2016.

6 Respostas para “William H. Mumler: o primeiro fotógrafo de espíritos do século XIX

  1. Muito interessante essa história. O hobby dele começa em torno de 1860, quando Allan Kardec já havia publicado o Livro dos Espíritos.

    Uma pena que ele tenha decidido anular os negativos. Mas, respeitemos a sua vontade.

    Muito obrigada!

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