No dia 27 de Janeiro de 1847, James Simpson, um rico industrial, escreveu sobre os benefícios de uma dieta livre de carne. Em seu texto, Simpson dizia que o povo acreditava, através da cultura popular, que a carne continha mais nutrientes do que os vegetais poderiam dar. No entanto, tal suposição era incorreta de acordo com as pesquisas atuais.
O plano de fundo para sua escrita foi o início do século 19, cuja Revolução Industrial havia desencadeado uma série de problemas sociais, e a “dieta vegetal” era visto por alguns como uma solução. A idéia de comer carne estava enraizada na sociedade, e numa época em que a reforma social ganhava força, a questão de saber se a abstenção da carne poderia trazer ordem à sociedade atraiu a atenção.
A saúde era uma das grandes obsessões dos vitorianos. Haviam surtos frequentes e devastadores de doenças durante o reinado da Rainha Vitória. Se não era gripe era tifo, se não era tifo era cólera, isso sem contar a febre tifóide ou escarlatina. Existiam principalmente duas correntes em apoio ao vegetarianismo: a primeira era medicinal, argumentando que a dieta que excluía carne era melhor para a saúde e mais provável em ajudar na prevenção de certos tipos de doenças, e tendo propriedades curativas; e essencialmente o argumento de que era imoral matar e comer animais.
A primeira organização a abandonar o consumo de carne à longo prazo foi a Igreja Cristã da Bíblia (The Bible Christian Church), liderada pelo reverendo William Cowherd em Salford, perto de Manchester. Em 1809, Cowherd colocou o princípio de abstinência do consumo de carne à sua congregação. Seu espírito reformador, que incentivava a temperança e auto-aperfeiçoamento através da educação lhe ganhou o favor da população local. O reverendo dava ênfase de que o vegetarianismo era bom para a saúde e que comer carne dava origem à violência. Ele morreu em 1816, mas os membros de usa Igreja futuramente se tornariam os líderes da Sociedade Vegetariana (Vegetarian Society). Esses incluíam Joseph Brotherton, que o sucedeu na liderença da Igreja, e James Simpson. Em 1832, a esposa de Brotherton publicaria o primeiro livro de culinária da “dieta vegetal”.
A iniciativa de criar a Sociedade Vegetariana veio de um grupo diferente, com base em torno da Alcott House Academy, perto de Surrey. Em abril de 1842, uma revista dessa escola publicou o que é conhecido como o primeiro uso impresso conhecido da palavra “vegetariano”, e nos próximos cinco anos, todas as utilizações da palavra estariam estreitamente ligados à Alcott House. No entanto, em 1839, de acordo com o Dicionário de inglês Oxford a palavra já tinha sido usada em um jornal chamado “Residence on Georgian Plantation”:
“Se eu tivesse que cozinhar, inevitavelmente me tornaria vegetariano.”
Embora a saúde fizesse parte do racioncínio, o vegetarianismo era baseado no ascetismo, de viver simples e moralmente responsável quanto possível.
Em 8 de Julho de 1847, o gerente de negócios da Alcott House, William Oldham, reuniu aqueles que pudessem estar interessados em formar uma sociedade. Os cristão da Bíblia Salford foram representados por James Simpson. A segunda reunião aconteceu em 30 de Setembro de 1847, e Sociedade Vegetariana nasceu. 150 membros foram matriculados. No ano seguinte, a organização contava com 265 membros entre 14 e 76 anos. Foi criada a revista Vegetarian Messenger, com 5 mil cópias distribuídas por mês.
Ao longo da década de 1850, reuniões e grupos vegetarianos locais foram formados nas principais cidades e vilas, incluindo Londres, Edimburgo, Glasgow, Birmingham e Liverpool. O movimento se espalhou para várias partes do país, e em 1877 foi formada a The London Food Reform Society (LFRS), que se fundiria em 1885 com a Sociedade Vegetariana. Em 1888, elas se separaram e foi formada a Sociedade Vegetariana de Londres (The London Vegetarian Society), que tinha sua própria revista, “The Vegetarian”. No final do século 19, a Grã-Bretanha podia se gabar de duas organizações vegetarianas influentes.
Anna Kingsford (16 de Setembro 1846 – 22 Fevereiro de 1888), na década de 1880, refletia um ideal semelhante. Uma das primeiras mulheres inglesas a obter um diploma de Medicina, Anne lutava contra a sociedade machista da época e era contra vivissecação de animais, além de lutar a favor do vegetarianismo. Em 1872, ela se tornou a prprietária The Lady’s Own Paper, e depois de passar em seus exames em medicina na França, publicou sua tese sobre o vegetarianismo. Em 1882, ela acusou
“os defensores modernos comedores de carne e vivissecação da prática mais baixa na escala da natureza e humilhar o padrão moral da humanidade…”
que legal ❤
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Mas o Shelley e Mary Shelley eram vegetarianos e viveram antes.
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Oi Danielle, claro que a idéia de não comer carne sempre existiu – acredita-se que a própria mãe de Henrique VIII, Elizabeth de York, poderia ser vegetariana por conta de alguns registros de que, em banquetes, ela não comia carne. No entanto, a idéia do vegetarianismo como forma de controlar a raiva e a sociedade tomou forma durante o século 19 e, naquela época em que a palavra ainda não era usada, os vegetarianos eram chamados de pitagóricos, e sua idéia principal era de que a dieta sem carne estava em comunhão com a natureza, acreditando que o consumo de carne era desumano – durante o século XVIII havia mais variedade de vegetais disponíveis, quase todas as grandes cidades na Europa tinham jardins com frutas e legumas, sendo fácil manter essa dieta.
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